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quarta-feira, 2 de setembro de 2015

AIDENTO POESIA - A despedida de Teodorico, o filho mais velho de Zaqueu

O Quadro AIDENTO POESIA trás semanalmente uma boa poesia para os leitores apreciar. Com uma poesia diferente toda semana, e o melhor, autores regionais.

--- Walter Medeiros

Aquela luz que ilumina
Aqui no meu pensamento
Sempre tem o seu momento
Que começa e termina
Pois agora eu me sento
Prá escrever rápido ou lento
Um caso que me fascina.
É um fato verdadeiro
Que aqui eu vou narrar
Pois quero compartilhar
Esse caso por inteiro
Onde o sertão virou mar
Existia um lugar
Que criava cangaceiro.
Pois foi num tempo antigo
Que a história sucedeu
O filho de seu Zaqueu
Tinha o irmão por amigo
Mas foi um engano seu
Um momento ele viveu
Correndo sério perigo
Chamava-se Teodorico
Aquele jovem rapaz
Que não suportava mais
Dizia que nenhum tico
O regime dos seus pais
Com castigos colossais
Era de pedir penico.
O homem era rigoroso
Castigava prá valer
Coisa de estremecer
Aquele pai horroroso
Fazia os filhos gemer
Sem saber o que dizer
Para um homem tão raivoso.
Os meninos apanhavam
Eram surras de chicote
Tinham que ser muito forte
Prá tudo aquilo agüentar
Sonhavam com outra sorte
Talvez até ir pro Norte
Para a vida melhorar.
Teodorico sonhava
Com a sua liberdade
Queria ter mais idade
Prá mandar tudo às favas
Mas enquanto era menor
Não podia seguir só
Pois o pai jamais deixava
Enquanto o tempo passava
Ele ia matutando
Um plano arquitetando
Pois a coisa tava brava
Sofrendo ia esperando
Em onde, como e quando
Saía e se libertava.
Mas um dia foi demais
Ele nunca esqueceu
Pois a coisa assim se deu
Com o tristonho rapaz
Obedecendo a Zaqueu
Quase que ele morreu
Porque demorou demais
Ele saiu do roçado
E foi até o barreiro
Teria que ir ligeiro
E dar água para o gado
Porém desobedeceram
E na água se meteram
Demorando um bocado
Quando chegaram de volta
Zaqueu estava bufando
E logo ele foi pegando
Um pau que nem se entorta
Perguntou o que sabia
E ouviu o que queria
O resto não lhe importa
Os meninos só culparam
O irmão Teodorico
O pai não fez nenhum bico
Logo todos escutaram
Cada paulada um grito
Daquele jovem aflito
Que os irmãos acusaram
Depois de quinze minutos
Prostrado lá no terreiro
Só se via o sangueiro
Parecia um bicho bruto
Cortes pelo corpo inteiro
Levado para o celeiro
Era um verdadeiro luto
O tratamento que havia
Era o mais natural
Lavar com água de sal
Era tudo que podia
Não existe nada igual
Àquele gesto animal
Uma grande covardia
Mas era assim que era
O costume do sertão
Gestos de humilhação
Aconteciam de vera
Sem qualquer contemplação
Era a lei do bordão
Parecia uma galera
No outro dia, quebrado
Sem poder nem se mexer
O pai inda foi querer
Que fosse para o roçado
Mas a mãe foi convencer
Que não havia porquê
Ser ainda mais malvado
Mas lá no seu pensamento
Teodorico almejava
Para o dia que chegava
Um outro discernimento
A coisa era muito brava
Mas uma fuga preparava
Nem que fosse num jumento
Passaram-se alguns dias
Tudo voltava ao normal
Mas numa questão moral
O rapaz se prevenia
Arrumou mala e bornal
Fugiria prá Natal
Ninguém mais o deteria
Só que quando ia fugir
Preferiu peitar a fera
Parecia uma quimera
Mas resolveu lhe pedir
Que de forma bem sincera
Resolvesse como era
Que deveria partir
Aí teve uma surpresa
Na dureza de Zaqueu
Pois ele estremeceu
Olhando para Tereza
Escutou e entendeu
A fala do filho seu
Com uma cara de tristeza
Nunca ninguém no sertão
Tinha visto coisa assim
O homem cor de carmim
Parecia um pimentão
Olhou pro filho e enfim
Disse pois se é assim
E não vou impedir não.
Faça lá da sua vida
O que você bem quiser
De jumento ou a pé
Procure sua guarida
Você sabe como é
Mas quando a gente quer
Procura a melhor lida
Naquele exato momento
Ele se surpreendeu
Pois nos olhos de Zaqueu
Num toque singelo e lento
Uma lágrima rompeu
E um abraço se deu
Ante tão vasto relento.
O filho foi lhe dizendo
- Tava de mala arrumada
e hoje a minha parada
eu posso até não tá vendo
mas nesse mundo mais nada
nem a ponta de uma espada
brecava o que to querendo.
Dali ele foi embora
E a mãe ficou chorando
Os irmãos se lamentando
Mas tinha chegado a hora

Pela estrada andando
Sua história foi contando
Todo dia, mundo afora.
O que dali se passou
Eu só vou contar depois
Só sei que cuidar de bois
Ele nunca mais cuidou
Despeço-me aqui, pois
Dizendo que aqueles dois
A vida não mais juntou.

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