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quarta-feira, 30 de setembro de 2015

AIDENTO POESIA - Palavras ...

O Quadro AIDENTO POESIA trás semanalmente uma boa poesia para os leitores apreciar. Com uma poesia diferente toda semana, e o melhor, autores regionais.

 

O mundo das idéias livres...

tais quais são pensadas,

moldadas...

Verdades? Palpitações.

Mentiras? Esferas.

Confronto concreto dilapidando

mentes,

aclarando fontes,

obstruindo estantes.

Diálogos ampliados,

resumidos, trocados,

mal compreendidos.

Esticados ao máximo

de suas línguas,

bocas impotentes.

Para a clausura eterna

do fogo que as lança

ao mundo do imaginário.

Do “Livro das Palavras”. In: O Chamado ou o cântico para a liberdade e outras poesias. 2ª. ed. São Paulo: Editora Scortecci, 2008.

quarta-feira, 23 de setembro de 2015

AIDENTO POESIA - Solta no mundo

O Quadro AIDENTO POESIA trás semanalmente uma boa poesia para os leitores apreciar. Com uma poesia diferente toda semana, e o melhor, autores regionais.


Estou abafada,
presa dentro de mim mesma.
Queria dizer uma palavra apenas para minha alma sôfrega.
Há algo dentro desta alma sempre em plantão,
sempre atenta, agitada, em rebelião.
Sonhos confusos, estradas perigosas.
Palavras secretas como se o medo de pronunciá-las fosse se tornar meu castigo,
minha pena, por ousar tanto!

Vejo ao longe uma menina
andando numa bicicleta vermelha.
Tão livre, tão doce, tão inteira de si!
Já me perdi tantas vezes que nem  enxergo mais o caminho certo.
Nem o que leva a mim, aos meus desejos, a minha própria voz.

O sol bate firme na estrada de terra batida,
vermelha,
cortada por curvas, subidas, descidas, atalhos...
Sombreada pelas árvores e encostas...a menina corre na bicicleta.
Ignora os obstáculos.
Pode até cair, mas continua.

Procuro essa força da criança que cresceu em mim.
Procuro a valentia,
os sonhos verdadeiros, sem enigmas, sombras ou neblinas.
Procuro os caminhos de uma direção só: o futuro, o adiante,
o que se vê à frente, na próxima esquina, o mais distante que as pernas puderem alcançar.

AUTORIA NÃO CONHECIDA ( CASO O AUTOR OU ALGUÉM QUE O CONHEÇA VEJA ISSO, FAVOR CONTACTAR COM O NOME DO AUTOR E LINK PARA SEUS TRABALHOS)

quarta-feira, 16 de setembro de 2015

AIDENTO POESIA - Rimas para palavras e palavrões

O Quadro AIDENTO POESIA trás semanalmente uma boa poesia para os leitores apreciar. Com uma poesia diferente toda semana, e o melhor, autores regionais.

--- Walter Medeiros
Quando o homem foi criado
No meio da natureza
Foi uma grande surpresa
Prá boi, macaco e veado,
Era tudo uma beleza
Não existia tristeza
No vale nem no cerrado.
Mas essa vida pacata
Que existia na terra
Tempo de paz e sem guerra
Não tinha nem opercata
Logo, logo se encerra
Pois lá do alto da serra
Surgiu o que se relata.
Para melhorar o mundo
Foi criada a mulher
Duma costela qualquer
Nasceu em um só segundo
Aí o homem, com fé,
Foi correndo prá maré
Mas não ia até o fundo.
Aconteceu muita coisa
E o tempo foi passando
A terra se povoando
Pelo homem e a esposa
Hoje a terra vai rodando
Todo mundo se estranhando
Até sapo e mariposa.
Antigamente o respeito
Era quase natural
Na zona urbana e rural
Era tudo de outro jeito
Hoje a coisa vai mal
E tudo que é imoral
É o que tá sendo feito.
Em qualquer lugar que vou
Encontro pornografia
Tem delas que arrepia
Quem nunca se acostumou
A ver no seu dia-a-dia
Essa linguagem vazia
Que a cultura dominou
Mas aqui não vou rimar
Com as palavras que malho
Prefiro jogar baralho
A tais palavras usar
Se eu cometer ato falho
De qualquer santo me valho
Prá me penitenciar
Muita gente já sentiu
Algo triste de verdade
Pois até a liberdade
Recebe agressão vil
Quando vê essa disputa
No meio de tanta luta
Pelo bem desse Brasil
E nunca tem quem socorra
Nosso querido idioma
Pois até gente de fama
Fala palavrão na zorra
Não quero uma redoma
Mas eu me sinto na lama
Feito uma velha cachorra
A coisa é mesmo preta
Isso não posso negar
Pois vejo em todo lugar
A rima da clarineta
Mas consigo escapar
Aqui basta me lembrar
Dos olhos de Mariêta
Até mesmo o mais sublime
Envolvimento de amor
A palavra deturpou
Acho isso quase um crime
Pois quem se enamorou
E fez lá o seu amor
De outra forma se exprime
Tem rima também prá poda
Nesse linguajar tão chulo
Que faz qualquer um dar pulo
Feito um samba de roda
Isso também não engulo
Algo que era tão fulo
Agora é a maior moda.
E o verbo que se vê
Quando alguém se revolta
E a sua ira solta
Manda logo que você
Chamado de idiota
E não é uma lorota
Vá se... eu não vou dizer
Mas de toda essa verdade
Aquela que choca mais
É quando se vê casais
Sem a menor caridade
Dizerem que são os pais
De crianças imorais
Mesmo em tenra idade
É como o Rei ficar nu
O tom da pornografia
Pois nomes que não se via
Para rimar com umbu
Agora em vez de umbuzada
A rima fica danada
Pois não dizem nem caju
Lembro quando era menino
E via com aspereza
Falarem em safadeza
Era o maior desatino
Agora é uma tristeza
Acabaram com a beleza
Do inocente pequenino
Mas ainda tenho fé
Que o forró do sertão
Aquele do Gonzagão
Será sempre o que é
Mensagem de emoção
Sem a besta apelação
Do Calcinha de mulher.
Acho que falo verdade
Quando digo que o povo
Tem amor ao que é novo
Mas gosta de qualidade
Sei que tudo não resolvo
Mas aqui agora eu louvo
Quem faz o bem com vaidade.
Isso não me santifica
Não é isso que procuro
Esse é um páreo duro
Pelo que significa
Mas almejo no futuro
Um idioma tão puro
Que nem a água de bica
Esse é o meu recado
Espero ser entendido
Senão estarei perdido
Andando prá todo lado
Quero que tenham sentido
Como é feio o alarido
Do pornô banalizado.











































































































































terça-feira, 15 de setembro de 2015

VIDAS DA NOITE CALADA E FRIA : UMA CRITICA DO FILME NOTURNOS


Os potiguares Carito Cavalcanti e Joca Soares que andam circulando por aí com o curta “Noturnos”. O filme tem roteiro inspirado em poemas de Nina Rizzi. Da autora também é a voz em off do curta.
Provavelmente o filme poderia ser definido como tendo um conceito INSPIRADOR. É muito jogo de luz, muita estética, muito movimento. E tudo isso, muito bem feito. 
Cena do filme 
Os diretores fazem uma escolha óbvia por uma estética urbana-noturna, como o título bem ressalta. Está escuro. Mas há luz. Há movimento. Há gente. Há vida. As cenas são curtas, tais como relâmpagos, que nem por serem curtos são menos intensos, bem como a trilha escolhida. 
“Noturnos” é um filme, sobretudo, estético. E sua estética é linda. Não se trata de uma narração linear. Talvez, sequer se trate de uma reflexão. Mas quase quatro minutos de contemplação.
Veja o trailer :
 https://www.youtube.com/watch?v=O4w2tarz5oA

NOTA DO FILME :

ATÉ A PRÓXIMA !!!

quarta-feira, 9 de setembro de 2015

AIDENTO POESIA - A sina do pernambucano inocente que ficou 19 anos preso

O Quadro AIDENTO POESIA trás semanalmente uma boa poesia para os leitores apreciar. Com uma poesia diferente toda semana, e o melhor, autores regionais.

--- Walter Medeiros
Neste mundo esculhambado
Em que temos de viver
Vou contar para você
Sobre um homem injustiçado;
Uma história de tremer
Que deu muito o que fazer
E condenou o estado.
O estado de Pernambuco
Cometeu danos morais
E também materiais,
Uma coisa de maluco;
Contra um jovem rapaz
Que era forte e sagaz
Mas virou um vuco-vuco.
Pois esses incríveis danos
Vêm de algo impertinente
Prenderam ilegalmente
Um homem só por engano;
Debaixo do sol poente
Essa prisão diferente
Durou dezenove anos.
Tal violação humana,
A maior que já se viu,
A justiça decidiu,
Mas ali não basta grana;
Pois tudo repercutiu
E uma vida ruiu
Porque o estado se engana.
Duas vezes por engano
Foi preso e encarcerado,
Nada ficando provado
No fórum pernambucano;
Do Cabo ele foi levado
E apareceu o culpado
Que estava se esquivando.
O mecânico e motorista
Era um homem bondoso,
Bom filho e bom esposo,
Não era mercantilista;
Mas tido por perigoso
Acabou todo seu gozo
Não pode mais ser passita.
Na Aníbal Bruno preso
E na Barreto Campelo
Não é o melhor modelo,
Sofreu o maior desprezo;
Nunca lhe tiveram zelo,
Foi tempo de desespero
Qualquer um ficava teso.
Não tinha banho de sol
E era violentado,
Sofria de todo lado
Querendo sair do rol;
Como todo injustiçado,
De capitão a soldado
Não davam nem Bezerol.
Alguém que nunca foi gênio
Tirou a sua visão
Em uma rebelião
Inda no outro milênio;
Na cela, sem compaixão,
Atacaram-lhe então
Com o gás lacrimogênio
O Marcos M. da Silva
Não recebeu garantias,
Ninguém no mundo ouvia
Sua constante assertiva;
Em sua cela todo dia
A história repetia
Mas lhe deixaram à deriva.
Acusado falsamente
Marcos viu desmoronar
Tudo que tinha em seu lar
Acabou bem de repente;
Não conseguia falar
Com os chefes do lugar
Mandavam sair da frente.
Contraiu tuberculose
Quando estava na prisão,
Também perdeu a visão
Me diga se não é dose;
Isso não é ficção,
É história de uma ação,
Com isso não há quem prose.
Naquela cela, tão só,
Quase que ele morreu,
Mas como sobreviveu
Lembra a história de Jó,
Com a fé que Deus lhe deu
Esse tempo ele venceu
Nunca vi cousa pior.
Se um ser humano erra,
Erra mais que julga errado
Deixando encarcerado
Inocente dessa terra;
E tem julgador malvado
Que julga precipitado
Nem olha se o réu berra.
Marcos perdeu liberdade,
Ficou na prisão sofrendo,
Treze anos padecendo
Essa é que é a verdade;
Um caso muito horrendo
Que só merece adendo
Da falta de caridade.
Claro que alguém falhou,
Cometeu grande imprudência,
Pois não houve paciência
Pra ver o que alegou;
Bradando sua inocência
Marcos não teve clemência,
Cada vez mais se afundou.
Foi o capitão Galindo,
Novo chefe da prisão
Que fez a reparação
E deu seu sofrer por findo;
Pelo menos desde então
Cumprindo a sua missão
Mandou que fosse seguindo.
No presídio nada havia,
No cartório também não,
Nada contra o cidadão
Documento algum dizia;
Na vara da execução,
Mais uma confirmação
Da própria secretaria.
O juiz da transferência
Diz que não lembra de nada;
Carreira imaculada,
Mas assinou a sentença;
Diz que não fez coisa errada,
Mas lascou o camarada
Ora tenha paciência!
No fim de todo esse horror,
Despido de vaidade,
Para buscar a verdade
Foi um desembargador;
Com toda dignidade,
Por nossa sociedade
Pediu perdão e falou.
Doutor Fernando é o nome
Do homem que levantou
Perto de Marcos chegou,
Viu que o sofrer não some;
A sua mão apertou,
O fórum todo chorou
Com o gesto daquele homem.
Marcos terá 2 milhões,
Decidiu o tribunal,
Uma quantia legal,
Mas não paga emoções;
Não corrige todo o mal,
Nem pune ação ilegal
Dos julgadores errões.
Diz um nobre advogado
Que o Marcos teve sorte;
Se fosse pena de morte,
Ela já estava enterrado;
Justiça precisa norte
E isso é uma prova forte,
Verdadeiro arrazoado.
Marcos vai ter o dinheiro,
Mas perdeu sua visão,
Sofreu mais do que Sansão,
Pois passou o tempo inteiro
Sem ter dinheiro na mão,
Tudo que ouvia era não
Do povo interesseiro.
E quem fez ele sofrer,
Será que irão pagar?
O estado vai deixar
Simplesmente esquecer
Quem achou de condenar
Sem as provas confirmar
A tamanho padecer?
Será que é desse jeito,
Condena e fica por isso?
Onde está o compromisso
Que algum dia foi feito,
De nunca ser submisso
Cumprir bem o seu ofício
Em favor do bom direito?
Aquelas “autoridades”
Que condenaram ao calvário
Pelo cárcere diário,
Dias de atrocidades,
Não vão virar réu primário
Têm vultoso salário
Nem gostam dessas verdades.
Não é um caso isolado,
Com certeza temos mais,
Vez por outra nos jornais
Surge alguém injustiçado;
E o Estado nada faz
Para garantir a paz
De um povo desencantado.
Agora a gente imagina
O homem perder a pista
Sem ter nada que assista,
Como foi a triste sina,
Nesse mundo de conquista
O que é perder a vista
Deixar de usar a retina.
Mas tem gente mais injusta,
Que inda culpa o réu
Como se fosse um Céu,
Pois não sabe quanto custa
Ficar tanto tempo ao léu
Cumprindo triste papel
Esse quer ser uma “busta”.
Marcos diz que procurou
Ajuda de muita gente,
Dizia ser inocente,
Mas ninguém acreditou;
Pois nunca é diferente
Pode ser incoerente
Ninguém nunca lhe ajudou.
Agora é tocar a vida
Como Deus lhe aprouver,
É isso que o povo quer,
Mas é grande a ferida;
Precisa de muita fé
Prá continuar em pé
Mesmo já tendo guarida.
Que isso sirva de lição
Aos senhores da Justiça
Continuem nessa liça
Mas procurem a razão;
Sem moleza nem preguiça,
Pois quem erra só atiça
O mal em muita ação.
Termino emocionado,
Pois não é fácil saber
Que alguém teve de viver
Um tempo tão assombrado;
Um abraço prá você
Que conseguiu tudo ler
Pois é muito abençoado.
Até qualquer outro dia
Nas rimas do meu cordel
Rogando ao grande Céu
Uma bela fantasia
Para algum menestrel
Trazer histórias de mel
Repletas de alegria.




















































































































































































































































quarta-feira, 2 de setembro de 2015

AIDENTO POESIA - A despedida de Teodorico, o filho mais velho de Zaqueu

O Quadro AIDENTO POESIA trás semanalmente uma boa poesia para os leitores apreciar. Com uma poesia diferente toda semana, e o melhor, autores regionais.

--- Walter Medeiros

Aquela luz que ilumina
Aqui no meu pensamento
Sempre tem o seu momento
Que começa e termina
Pois agora eu me sento
Prá escrever rápido ou lento
Um caso que me fascina.
É um fato verdadeiro
Que aqui eu vou narrar
Pois quero compartilhar
Esse caso por inteiro
Onde o sertão virou mar
Existia um lugar
Que criava cangaceiro.
Pois foi num tempo antigo
Que a história sucedeu
O filho de seu Zaqueu
Tinha o irmão por amigo
Mas foi um engano seu
Um momento ele viveu
Correndo sério perigo
Chamava-se Teodorico
Aquele jovem rapaz
Que não suportava mais
Dizia que nenhum tico
O regime dos seus pais
Com castigos colossais
Era de pedir penico.
O homem era rigoroso
Castigava prá valer
Coisa de estremecer
Aquele pai horroroso
Fazia os filhos gemer
Sem saber o que dizer
Para um homem tão raivoso.
Os meninos apanhavam
Eram surras de chicote
Tinham que ser muito forte
Prá tudo aquilo agüentar
Sonhavam com outra sorte
Talvez até ir pro Norte
Para a vida melhorar.
Teodorico sonhava
Com a sua liberdade
Queria ter mais idade
Prá mandar tudo às favas
Mas enquanto era menor
Não podia seguir só
Pois o pai jamais deixava
Enquanto o tempo passava
Ele ia matutando
Um plano arquitetando
Pois a coisa tava brava
Sofrendo ia esperando
Em onde, como e quando
Saía e se libertava.
Mas um dia foi demais
Ele nunca esqueceu
Pois a coisa assim se deu
Com o tristonho rapaz
Obedecendo a Zaqueu
Quase que ele morreu
Porque demorou demais
Ele saiu do roçado
E foi até o barreiro
Teria que ir ligeiro
E dar água para o gado
Porém desobedeceram
E na água se meteram
Demorando um bocado
Quando chegaram de volta
Zaqueu estava bufando
E logo ele foi pegando
Um pau que nem se entorta
Perguntou o que sabia
E ouviu o que queria
O resto não lhe importa
Os meninos só culparam
O irmão Teodorico
O pai não fez nenhum bico
Logo todos escutaram
Cada paulada um grito
Daquele jovem aflito
Que os irmãos acusaram
Depois de quinze minutos
Prostrado lá no terreiro
Só se via o sangueiro
Parecia um bicho bruto
Cortes pelo corpo inteiro
Levado para o celeiro
Era um verdadeiro luto
O tratamento que havia
Era o mais natural
Lavar com água de sal
Era tudo que podia
Não existe nada igual
Àquele gesto animal
Uma grande covardia
Mas era assim que era
O costume do sertão
Gestos de humilhação
Aconteciam de vera
Sem qualquer contemplação
Era a lei do bordão
Parecia uma galera
No outro dia, quebrado
Sem poder nem se mexer
O pai inda foi querer
Que fosse para o roçado
Mas a mãe foi convencer
Que não havia porquê
Ser ainda mais malvado
Mas lá no seu pensamento
Teodorico almejava
Para o dia que chegava
Um outro discernimento
A coisa era muito brava
Mas uma fuga preparava
Nem que fosse num jumento
Passaram-se alguns dias
Tudo voltava ao normal
Mas numa questão moral
O rapaz se prevenia
Arrumou mala e bornal
Fugiria prá Natal
Ninguém mais o deteria
Só que quando ia fugir
Preferiu peitar a fera
Parecia uma quimera
Mas resolveu lhe pedir
Que de forma bem sincera
Resolvesse como era
Que deveria partir
Aí teve uma surpresa
Na dureza de Zaqueu
Pois ele estremeceu
Olhando para Tereza
Escutou e entendeu
A fala do filho seu
Com uma cara de tristeza
Nunca ninguém no sertão
Tinha visto coisa assim
O homem cor de carmim
Parecia um pimentão
Olhou pro filho e enfim
Disse pois se é assim
E não vou impedir não.
Faça lá da sua vida
O que você bem quiser
De jumento ou a pé
Procure sua guarida
Você sabe como é
Mas quando a gente quer
Procura a melhor lida
Naquele exato momento
Ele se surpreendeu
Pois nos olhos de Zaqueu
Num toque singelo e lento
Uma lágrima rompeu
E um abraço se deu
Ante tão vasto relento.
O filho foi lhe dizendo
- Tava de mala arrumada
e hoje a minha parada
eu posso até não tá vendo
mas nesse mundo mais nada
nem a ponta de uma espada
brecava o que to querendo.
Dali ele foi embora
E a mãe ficou chorando
Os irmãos se lamentando
Mas tinha chegado a hora

Pela estrada andando
Sua história foi contando
Todo dia, mundo afora.
O que dali se passou
Eu só vou contar depois
Só sei que cuidar de bois
Ele nunca mais cuidou
Despeço-me aqui, pois
Dizendo que aqueles dois
A vida não mais juntou.
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