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quarta-feira, 22 de julho de 2015

AIDENTO POESIA - O tremelique do cabra que buliu com uma moça do Nordeste

O Quadro AIDENTO POESIA trás semanalmente uma boa poesia para os leitores apreciar. Com uma poesia diferente toda semana, e o melhor, autores regionais.

--- Walter Medeiros

As coisa que eu relato
Nesses versos que escrevo
Sempre têm algum relevo
Pois tratam de algum fato
De repuxar qualquer nervo
Assim, para esse acervo
Vou ser bem imediato.
Nas quebradas do sertão
Bem no topo de uma serra
Um cabra quase se ferra
Numa noite de aflição
Foi parar naquela terra
Onde nenhum homem erra
E ninguém atira em vão.
Ele estava proibido
De na cidade passar
Sob pena de ganhar
Uns tapas no pé do ouvido
E morrer para pagar
O que devia por lá
Prá não ser tão enxerido.
Prá compreender a história
Primeiro eu vou dizer
O que precisa saber
Duma remota memória
Trinta anos vai fazer
Que Chico de Saruê
Fez uma coisa inglória
Ele veio lá da roça
Onde plantava feijão
Foi a sua perdição
Quando entrou numa troça
Arranjou uma paixão
E cheio de emoção
Foi parar numa palhoça.
O danado é que Chico
Fez logo o que não devia
Nem de noite nem de dia
Foi seu gesto mais nanico
Deitou-se com a Maria
Que logo no outro dia
Fez ele deixar o pico.
- Suma daqui, vá embora
Que não posso mais lhe ver
É melhor para você
Mudar logo sem demora.
Quando acabou de dizer
Viu ele estremecer
Pois só tinha uma hora.
Foi o tempo que lhe deram
Os irmãos daquela jovem
Não queira que eles provem
Pois o pior já fizeram
Logo logo eles se movem
E aqui as balas chovem
Nenhum segundo esperam.
Chico sumiu pelo brejo
Com um saco amarrado
Pelas costas arriado
Pisando espinho e tejo
Um cabrito desgarrado
Seria mais animado
E tinha mais privilégio.
Atravessou a caatinga,
Pulou cerca de arame
Sonhava com um salame
Mas só tinha a moringa
Sentia-se num tatame
Derrotado e infame
Sangue e suor lhe respinga.
Foi dando lá o seu jeito
Cada vez mais se afastando
Toda hora se lembrando
Uma grande dor no peito
Pela estrada pensando
Naquele momento quando
Seu passado foi desfeito.
Atravessou o Nordeste
Sem poder admirar
Coisas que via passar
Era um verdadeiro teste
Lá no Norte foi parar
Decidido a morar
Tão longe do seu agreste.
Sem falar do seu passado
Foi vivendo nova vida
Arranjou casa e comida
Trabalhando no pesado
Era tudo na medida
Uma terra prometida
Mas vivia desterrado.
Ele procurou viver
Dentro da normalidade
Tinha lá sua vaidade
Que ninguém pode perder
E uma cara-metade
Ali achou de verdade
E se casou prá valer.
Teve filhos com Antônia
A mulher que desposou
E quando o tempo passou
A família bem risonha
Para o Nordeste voltou
Mas longe se instalou
Daquela terra medonha.
Mas a vida não alerta
Para certos episódios
Onde se cultiva ódios
Nem a pessoa desperta
É como chegar no pódio
E encontrar-se com Ródio
Aquele que mais detesta.
Já fazia tanto tempo
Daquele fato vivido
Que Chico tava esquecido
Era outro seu pensamento
Para atender um pedido
Numa excursão tinha ido
Num ônibus super-lento.
O transporte que pegou
Era o maior pinga-pinga
Parecia uma caninga
Mas mesmo assim cochilou
Não existe quem distinga
Nem a chuva que respinga
Nem o rumo que tomou.
Pelas duas da manhã
Foi feita uma parada
E toda passageirada
Descia achando bom
Na brisa da madrugada
Uma notícia danada
O Chico mudou o tom.
Sonolento e distraído
Sentado na lanchonete
Queria comprar chiclete
Já tinha até pedido
Mas como um grande bofete
Disse, nervoso – repete!
O nome que escutou.
Ele havia perguntado
Que cidade era aquela
Olhando pela janela
Ficou logo apavorado
Sua face amarela
Lembrava-se da donzela
Que havia namorado.
Era naquela cidade
Que não podia voltar
Foi logo pro seu lugar
Pedindo por caridade
Para não mais demorar
Pois precisava chegar
A qualquer outra cidade.
Ninguém sabia por quê
Ele também não dizia
Tudo que ele queria
Era uma estrada ver
Onde então sentiria
Sua maior alegria
A certeza de viver.
Chegando noutra cidade
Respirou fundo e falou
Que nunca imaginou
Que pudesse de verdade
Viver momentos de horror
Como aqueles que passou
Que infeliz realidade.
Era essa a história
Que eu vi Chico me contar
Sei que vão me acreditar
Pois guardo cá na memória
Trinta anos no Pará
Para depois se arriscar
Obrigado, vou embora.













































































































































































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